segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

TALMIDIM 071

Portanto, não se preocupem, dizendo: “Que vamos comer?” ou “Que vamos beber?” ou “Que vamos vestir?” Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas.
Mateus 6.31-33
Pagãos

É legítima a preocupação humana com a sobrevivência e os recursos para uma vida digna. Jesus Cristo nos diz, entretanto, que a preocupação com essas coisas não deve ser a força motora de nossa vida. A razão é simples: sustentar seus filhos é parte fundamental do caráter de Deus e não faz sentido nutrir inseguranças a respeito disso.

De fato, é inconcebível a cena de uma criança acordando no meio da noite e batendo na porta do quarto de seus pais para lhes perguntar se eles vão oferecer almoço no dia seguinte. Ou se vão providenciar escola ou roupas. A providência para o bem-estar dos filhos é compromisso dos pais. Quero que meus filhos durmam despreocupados, que eles me conheçam o suficiente para jamais duvidar de meu caráter e de meu amor por eles. É o que Deus está dizendo para nós: ele cuida das flores e dos pássaros; cuidará também de cada um de nós. Não é razoável desconfiar de Deus. Devemos gastar nossas energias buscando o reino de Deus em primeiro lugar.

Jesus não nos promete nenhum tipo de mágica, como se a honra a Deus fosse revertida em pão, boas roupas e imóveis. Devemos nos lembrar de que Jesus fala para um horizonte de pessoas oprimidas, com fome e sede de justiça. Gente esmagada pela escravidão, pelo martírio e perseguição. Jesus aponta para outra realidade, uma sociedade possível num outro mundo possível. Ele dá a esse lugar o nome de reino de Deus.

A relação de troca com Deus é própria do paganismo, em que os fiéis buscam suas divindades para que elas retribuam viabilizando conforto e boa vida. Os talmidim de Jesus buscam a Deus porque ele é a fonte de todo amor, a expressão de toda justiça e é a boa vontade distribuída entre os homens. Nós o buscamos para que ele nos inspire a viver no seu reino, nos domínios da paz, da fraternidade e da alegria. Nosso compromisso é com o reino de Deus e com sua justiça, as demais coisas são acessórios.
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Referência do texto: KIVITZ, Ed René. Talmidim: o passo a passo de Jesus. São Paulo: Mundo Cristão, 2012. Página 77.

Transcrição: Deivid Liberto

TALMIDIM 070

Não se preocupem com sua própria vida, quanto ao que comer ou beber; nem com seu próprio corpo, quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante que a comida, e o corpo mais importante que a roupa? Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta [...]. Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem. Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles. Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, não vestirá muito mais a vocês, homens de pequena fé?
Mateus 6.25-26, 28-30
Desapego

As palavras de Jesus nos colocam diante de um desafio máximo: o desapego total. Quem deseja ser um talmid verdadeiro de Jesus deve chegar ao ponto de se livrar conscientemente de tudo o que não é essencial. Não se preocupar com o que comer, beber ou vestir. Não se preocupar com sua própria sobrevivência.

Jesus vinha ensinando isso havia algum tempo. Sobre as orações, ele ensinou que não deveriam ser repetições de súplicas, pois o Pai celestial sabe do que precisamos antes mesmo de pedirmos. Sobre o alimento, ensinou que o pão que devemos pedir a Deus é muito mais que o alimento para o corpo. E agora, finalmente, propõe que não nos preocupemos com o que comer, beber ou vestir.

Os talmidim de Jesus estão em marcha para o reino de Deus. Eles não se ocupam com sua sobrevivência ou conforto. Estão descansados na provisão e nas promessas de seu Abba. Esses talmidim estão, inclusive, dispostos a sofrer privações, passar dificuldades, conviver com a hostilidade da sociedade e sofrer perseguições, porque sabem que sua bem-aventurança consiste na marcha contínua para o reino de Deus.

Pessoas ocupadas com o que comer, beber ou vestir passam a vida absorvidas pelo trivial da existência humana e ainda não tiveram seus olhos abertos para a grandeza, a sublimidade, a transcendência do reino dos céus. Os talmidim de Jesus, por sua vez, já receberam a revelação do reino de Deus e não estão mais preocupados com suas necessidades básicas. E seguem sua peregrinação como sal da terra e luz do mundo, sob os cuidados do Pai celestial.

Peça a Deus que livre seu coração de toda e qualquer ansiedade quanto ao futuro. Descanse no cuidado e provisão de Deus. Ele cuida das flores e dos passarinhos. Cuida também de você.

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Referência do texto: KIVITZ, Ed René. Talmidim: o passo a passo de Jesus. São Paulo: Mundo Cristão, 2012. Página 76.

Transcrição: Deivid Liberto

domingo, 26 de fevereiro de 2017

TALMIDIM 069

Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro [Mamom].
Mateus 6.24
Mamom

O apóstolo Paulo disse que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1Tm 6.10). Isso pode ser mal interpretado, como se o dinheiro fosse neutro e todo o problema fosse o amor ao dinheiro. Nada mais perigoso do que pensar assim. Para Jesus, o dinheiro é um poder, algo que carrega uma energia espiritual que atua como se o dinheiro fosse uma pessoa que faz promessas, reinvindicações, exigências e que escraviza seres humanos. Por causa dessa energia espiritual é que ninguém pode “servir a Deus e ao Dinheiro” ao mesmo tempo. O dinheiro não é neutro. É o que a Bíblia chama de potestade: algo impessoal (uma coisa, um objeto) que funciona como se fosse uma pessoa. Jesus personifica o dinheiro, dá a ele o nome de Mamom, e atribui a ele o status de uma divindade que rivaliza com o Deus vivo e verdadeiro.

Neutro é um copo de plástico vazio e usado. Quem passa por um copo jogado ao chão, quando não pisa ou chuta, no máximo o coloca no lixo. Ninguém se sente atraído por um copinho usado, nem fica tentado a colocá-lo no bolso. Mas uma nota de 100 reais não é neutra. Ninguém passa indiferente por uma nota que está caída no chão. O dinheiro é assim, funciona como um ser vivo: nos chama, fala com a gente, seduz, faz promessas maravilhosas e exigências absurdas. O dinheiro é uma potestade, um deus rival.

Jesus é enfático em sua advertência: “Cuidado: onde estiver o seu tesouro, o seu coração vai atrás”. O dinheiro tem a capacidade de escravizar nosso coração. Mas Deus não faz promessas ilusórias nem exigências que ferem e humilham as pessoas. É melhor escolher servir a Deus.

A maneira como Jesus nos ensina a controlar o poder do dinheiro é reconhecendo que existe apenas um único e digno Senhor: Deus, nosso Pai.

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Referência do texto: KIVITZ, Ed René. Talmidim: o passo a passo de Jesus. São Paulo: Mundo Cristão, 2012. Página 75.
Transcrição: Deivid Liberto

TALMIDIM 068

Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração. Os olhos são a candeia do corpo, se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz. Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas. Portanto, se a luz que está dentro de você são trevas, que tremendas trevas são!
Mateus 6.19-23
Cofre

A maioria das pessoas acredita que o comentário de Jesus sobre os tesouros faz uma distinção entre os tesouros da terra e os tesouros do céu. Nesse caso, joias, carros, mansões e iates seriam tesouros da terra, enquanto caráter, família e amizades, por exemplo, seriam tesouros do céu. Acredita-se que é mais importante ser justo do que ter dinheiro.

É verdade que é mais importante ter caráter do que ter dinheiro, e também é verdadeiro que pessoas valem mais do que coisas. Mas não é isso que Jesus está dizendo. Ele não está fazendo uma distinção entre os tesouros na terra e os tesouros no céu. Ele não está preocupado em qualificar o tipo de riqueza — se material ou imaterial, ainda que haja uma advertência quanto à riqueza que pode ser queimada, destruída ou roubada. Jesus está falando sobre cofres diferentes e explicando que há um cofre na terra e outro cofre no céu. Jesus não está tão preocupado com o tipo de tesouro que temos, mas sim, onde esse tesouro está guardado, se na terra ou no céu.

Há um segredo de sabedoria escondido no ensinamento de Jesus a seus talmidim. Como podemos guardar tesouros no céu? Jesus evoca a tradição rabínica a respeito dos olhos bons e maus. No judaísmo, ter um “olho bom”, um ayin tovah, significa ser generoso; e ter um “olho mau”, um ayin ra’ah, significa o contrário, isto é, ser mesquinho. Os olhos bons são comparados à solidariedade, à compaixão e à autodoação. Os olhos bons são olhos da generosidade; olhos maus são olhos do egoísmo. Olhos bons são olhos iluminados, que contemplam todos à volta e conseguem incluir outras pessoas em sua vida. Olhos maus são olhos de trevas, de quem não consegue enxergar nada além de si.

A recomendação de Jesus é que nossos tesouros estejam guardados no cofre do céu. Isto é, que nossas riquezas sejam distribuídas e partilhadas com bondade. Tesouros retidos egoisticamente apodrecem, ou são roubados e usurpados, pois todos os tesouros foram concedidos por Deus para o benefício comum, para o bem-estar coletivo.
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Referência do texto: KIVITZ, Ed René. Talmidim: o passo a passo de Jesus. São Paulo: Mundo Cristão, 2012. Página 74.

Transcrição: Deivid Liberto

sábado, 25 de fevereiro de 2017

TALMIDIM 067

Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os outros vejam que eles estão jejuando. Eu lhes digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena recompensa. Ao jejuar, arrume o cabelo e lave o rosto, para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê em secreto. E seu Pai, que vê em secreto, o recompensará.
Mateus 6.16-18
Jejum

Todo o capítulo 6 do evangelho de Mateus trata da visão de Jesus Cristo sobre a sedaqah, a prática das obras de justiça segundo a tradição judaica. Jesus já havia tratado das esmolas, da oração e agora se põe a ensinar sobre o jejum.

Jejum é a abstinência de alimento ou de água. A maioria das pessoas confunde jejum com parar de comer. Uma dieta não é necessariamente um jejum, porque o que caracteriza o jejum é sua finalidade espiritual.

Jejuar é escolher a morte. Quem inicia um jejum começa a morrer, pois abre mão daquilo que é essencial à sobrevivência do corpo. O jejum é uma forma de lembrar nossa consciência de que existe uma realidade mais importante do que nossa própria sobrevivência. O jejum é um passo em direção a algo mais importante do que permanecer vivo.

Jesus faz a mesma recomendação a respeito do jejum que já havia feito sobre as outras obras de justiça. Aos que dão esmolas, aos que oram e aos que jejuam, Jesus recomenda que essas obras sejam feitas no anonimato. Para evitar que o aplauso dos espectadores se torne a recompensa de nossas obras de justiça, devemos evitar que as pessoas saibam de nossa generosidade, de nossas orações públicas e de nosso jejum. Jesus está nos ensinando a deixar a recompensa nas mãos de Deus.

No universo espiritual, os benefícios que colhemos não dependem de nossas virtudes ou de nossas ações de justiça. Dependem da atuação amorosa e graciosa de Deus. Não existe “conquista” no mundo espiritual, nem decorrente de nossa bondade, nem de nossas orações ou de nosso jejum. Tudo o que podemos fazer é nos engajar no que é justo e esperar em Deus que ele nos abençoe segundo sua boa vontade, sua graça e seu amor. O que é recebido pela graça não é conquista, é dádiva.

Existem coisas mais importantes do que continuar vivo. A vida física, a sobrevivência física é menor do que a experiência do divino. Abra seus olhos para além dos limites de seu corpo físico e contemple o universo espiritual a sua disposição. Olhe para Deus, e espere dele a recompensa.
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Referência do texto: KIVITZ, Ed René. Talmidim: o passo a passo de Jesus. São Paulo: Mundo Cristão, 2012. Página 73.

Transcrição: Deivid Liberto

TALMIDIM 066

E não dos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.
Mateus 6.13
Maligno

A oração que Jesus nos ensinou tem como última súplica o enfrentamento do medo do mal. Vivemos em um mundo contingente, onde coisas ruins acontecem a pessoas boas, e coisas boas acontecem a pessoas ruins. Todos estamos sujeitos tanto ao sofrimento quanto à boa sorte. Existe no mundo uma dimensão do mal cuja manifestação não pode ser antecipada ou impedida. Mas Jesus não está falando desse tipo de mal.

Quando Jesus nos ensina a orar dizendo “livra-nos do mal”, está se referindo a um mal personalizado, uma força ou um poder que nos ataca e contra o qual devemos lutar. Uma coisa é experimentarmos a contingência da existência; outra coisa bem diferente é deixarmo-nos vitimar, voluntária ou involuntariamente, por uma ação que poderia ter sido resistida e confrontada.

Por essa razão, a súplica “não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal” também é interpretada por “livra-nos do Maligno”. Jesus orou por seus discípulos pedindo a Deus: “Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal”, seguindo a mesma lógica do Pai-nosso. As contingências da vida afetam todos os que estão no mundo — estamos todos sujeitos a horas boas e ruins. Mas Jesus pede a Deus que livre seus talmidim do mal.

O mal quer nos cooptar para que nos tornemos malvados. Jesus adverte que seus discípulos devem estar preparados para enfrentar o mal e resistir ao Maligno. Jesus deseja que seus discípulos não apenas sejam poupados dos ataques e das consequências do mal, mas também e principalmente que sejam capazes de oferecer resistência ao agente malvado, o Maligno.

Jesus suplica para que possamos distinguir entre o sofrimento eventual, inevitável, circunstancial, e o sofrimento causado por nossa negligência ou displicência — a dor decorrente da abertura que demos ao mal, sem resistir aos apelos dos malvados e malignos que interferiram em nosso caminho. O ônus da aventura de viver é inevitável, mas Jesus nos ensina a pedir a Deus o livramento da ação do mal, bem como forças para estarmos vigilantes para combatê-la.

Peça a Deus que livre você do mal. Mas peça também que Deus livre você de se tornar uma pessoa malvada.
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Referência do texto: KIVITZ, Ed René. Talmidim: o passo a passo de Jesus. São Paulo: Mundo Cristão, 2012. Página 72.

Transcrição: Deivid Liberto

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

TALMIDIM 065

Perdoa as nossas dividas, assim como perdoamos aos nossos devedores.
Mateus 6.12
Perdão

A culpa é uma das forças mais destrutivas que habitam o coração humano. Não somente a culpa, mas também seu sentimento reverso — a imputação de culpa a outro, com a noção de que temos algum crédito a receber. As duas coisas se equivalem em força destrutiva: a profunda consciência de que temos uma dívida que jamais conseguiremos pagar, e a profunda consciência de que temos um crédito que jamais é depositado em nossa conta.

Jesus nos recorda o fato de que somos capazes de contrair dívidas impagáveis não apenas com Deus, mas uns para com os outros. A solução que Deus oferece, tanto para aqueles que são devedores quanto para os que sofreram danos irreparáveis, é o perdão.

No caso de dívidas impagáveis, apenas uma de duas soluções é possível: ou o relacionamento entre as partes acaba, isto é, se dissolve tragado pela mágoa, ódio, cinismo, indiferença, ou desejo de vingança, ou então acontece a experiên­cia do perdão.

O perdão é algo que Deus inventou para possibilitar a continuidade do relacionamento entre pessoas que contraíram dívidas impagáveis umas para com as outras.

Deus escolheu nos tratar oferecendo seu perdão, dizendo: “Eu sei que sua dívida comigo é impagável, mas eu prefiro sofrer esse dano a perder você”. A experiência do perdão é esta: nós acolhemos o prejuízo, porque não queremos perder as pessoas.

Peça a Deus a capacidade de perdoar. Peça a Deus a experiência do perdão. Jogue fora suas culpas. E jogue fora também as notas de créditos que você ainda espera que sejam ressarcidas por aqueles que lhe causaram mal. Dívidas impagáveis se resolvem apenas com perdão.
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Referência do texto: KIVITZ, Ed René. Talmidim: o passo a passo de Jesus. São Paulo: Mundo Cristão, 2012. Página 71.

Transcrição: Deivid Liberto