Este
material tem como objetivo expor uma síntese dos capítulos 35,36 e 37 da obra
de John M. Frame, intitulada “A doutrina da vida Cristã” (Link do Livro), os capítulos em
questão abordam o sexto mandamento do decálogo registrado na bíblia sagrada no
livro de Êxodo 20:13: “Não matarás”.
Capítulo 35
O sexto mandamento: Respeitar a vida
Considerando
que o mandamento aqui analisado se refere à morte, precisamos analisar a luz
das escrituras aquilo que se opõe à questão, ou seja, a vida. A vida é o
elemento que condiciona a relação entre o criador e sua criação, pois Ele é o
Senhor da vida, criou todas as coisas, e isso inclui os animais, as vegetações
e o homem, isto posto, os inseriu na terra como “seres viventes” e ao homem lhe
soprou sobre as narinas dando a ele o folego de vida e homem se torna alma
vivente, isso significa que além de vida física, o homem recebe de seu criador
vida espiritual.
A
palavra morte resume de modo mais completo o resultado da queda de Adão, como
consequência, observamos uma sequência de relatos de morte a começar pelo
castigo dado ao homem: “porque tu és pó e ao pó tornarás” (Gn 3.19) seguido
pela morte de Abel (Gn 4.8), relatos na genealogia que procedeu de adão “e
morreu” (Gn 5.1), limitação do tempo de vida humana (Gn 6.3) e termina com o
diluvio quase extinguindo a vida de sobre a terra (Gn 7.23).
A
infidelidade gerou a separação entre Deus e o homem e como consequência, a
morte. E como a vida, a morte é física (nos elimina da face da terra) e
espiritual (perdemos a comunhão com Deus), mas Deus enviou seu filho para
sofrer a morte espiritual no lugar da humanidade, ao morrer, Jesus levou sobre
ele os pecados que levam à morte (Rm 6.12) e ao ressuscitar, ressuscitamos com
Ele em uma nova vida (Rm 6.4), e assim, ao longo de toda a trajetória bíblica
Deus oferece vida, pois Ele tem prazer na vida, e o fato da morte existência da
morte nos revela a seriedade do pecado e ao mesmo tempo, o fato de que em
Cristo a morte seja absorvida, nos revela a bondade e misericórdia de Deus.
Com
isso, entendemos que o sexto mandamento nos revela que Deus é o Senhor da vida
e da morte, e não podemos cometer atos que violem a vida sem a plena
autorização dele, devemos respeitar a vida como um ato de reverência e comunhão
com o criador, preservar a vida é adora-lo.
O
catecismo maior de Westminster, nas questões 135 e 136, trata o tema questão de
forma expansiva, especificando os deveres exigidos e os pecados proibidos no
sexto mandamento. O direcionamento é para que através desse mandamento Deus nos
impulsiona a exercer todos os esforços em busca da preservação da vida, evitando
qualquer ocasião que acarrete em tirar a vida de forma injusta, atentando para
o uso moderado de alimentos, remédios, bebidas, sono, trabalho e lazer através
de pensamentos caridosos, amor, sossego mental, alegria de espirito, compaixão,
mansidão e outras competências geradas pelo Espirito de Deus, dessa forma,
evitando o tirar a nossa vida ou a de outrem, exceto no caso de justiça
pública, guerra legítima, ou defesa necessária; a negligência ou retirada dos
meios lícitos ou necessários para a preservação da vida; a ira pecaminosa, o
ódio, a inveja, o desejo de vingança; todas as paixões excessivas e cuidados
demasiados; e
O
verbo hebraico ratsakh é traduzido
nesse mandamento de forma genérica como “matar”, porém, a forma mais adequada
ao vocabulário português é “assassinar”. Mas cabe aqui um ponto de atenção,
pois o mandamento se aplica tanto ao homicídio doloso quanto ao homicídio
negligente. A bíblia relata casos em que, mesmo que o agente agressor cometa a
infração sem premeditação, o mesmo é julgado pela lei (Dt 19.5), pois o verbo ratsakh é mais restrito do que “matar” e
mais amplo do que “assassinar”. As aplicações das leis relacionadas ao
homicídio nos tempos do Israel bíblico divergem da contemporaneidade, um
exemplo simples é o fato de que em alguns casos, a pena para o assassino era
determinada pela família da vítima e há casos em que o agressor teria a opção
de se refugiar em uma cidade para que a não fosse punido com a morte por um
vingador de sangue, não podendo sair da cidade de refúgio até que o sacerdote
local morra (Nm 35.24), a analogia que podemos fazer neste caso é que o
assassino deverá tomar cuidado em preservar a sua vida não cometendo o erro de
sair da cidade e ser peço pelo vingador de sangue e somente terá sua liberdade
decretada quando alguém (sacerdote) morrer em seu lugar. A morte mesmo que sem
intenção, fere os princípios do mandamento bíblico, pois implica em ferir a
relação entre criatura e criador, portanto devemos nos proteger de qualquer
ameaça contra a vida, vamos nos referir a este ponto como a doutrina do
cuidado, que forma uma ponte entre a lei mosaica e os ensinamentos de Jesus,
que por sua vez, ressaltou a importância de não cometer ações que incitam a
morte, começado pelo coração, como irar-se contra um irmão, falar mal, insultar
e exorta para que não façamos ofertas ao Senhor com situações pendentes com um
semelhante, antes, devemos resolver tais atritos para não pecar contra Deus
(Mt.21-26). Jesus nos faz entender que qualquer ato de morte começa no coração.
A
bíblia exige que tanto a pessoa ofendida, quanto a pessoa que proferiu a ofensa
deve ter a preocupação e atitude de buscar solução para que não haja “brechas” (Mt
5.23-24 – 18.15-20), nenhuma das partes deve esperar o outro tomar a
iniciativa. O mandamento não nos conclama a não assassinar, mas de buscar meios
de preservar a vida.
Podemos
concluir que a lei do “não mataras” pode ser associada a lei do “amor”, pois o
amor nos condiciona a exercer a doutrina do cuidado, preservando a vida em
todos os aspectos. Em 1 João 3.14 temos uma expressão que define bem esta
questão: “Aquele que não ama, permanece na morte”.
O
novo testamento não contradiz o antigo testamento, pois Jesus e os apóstolos aplicam
seus ensinamentos fazendo diversas referencias nas leis mosaicas, salmos e nos
profetas. O tema “amar os inimigos” por exemplo, é citado em ambos onde o novo
testamento enfatiza o demonstrar amor para com os que são de fora da
comunidade, já o antigo testamento para com os estrangeiros que moram em Israel
(Lv 19.34), porém é o novo testamento que estende o mandamento do amor a todas
as nações.
Outro
ensinamento bíblico que corresponde ao sexto mandamento, é a ação de vingança,
onde o amor aos inimigos se aplica deve ser colocado acima de qualquer desejo
contrário e submeter tal ação a soberania de Deus, pois do Senhor é a vingança
(Dt.32.35; Sl 94.1; 1Ts 4.6). Em Romanos 12, Paulo nos ensina a abençoar os que
nos perseguem, e em Mateus 5.38-42, Jesus nos orienta a oferecer a outra face a
quem nos fere no rosto.
Sobre
a questão da autodefesa, a bíblia não nos deixa muitas passagens a respeito,
com raros exemplos dos quais podemos citar Êxodo 22.2-3, onde o autor nos
sanciona a agir em defesa própria em casos de invasões noturnas, porém não incita
a permissão para vingança.
Esses
ensinamentos revelam a essência do evangelho, pois devemos buscar meios de
abençoar aqueles que de alguma forma incitam nos afrontar, isso pode parecer
intrigante aos que que buscam nos atacar e os fazer considerar o amor de Jesus
Cristo de Nazaré.
Capítulo 36
O Sexto Mandamento: Guerra e Castigo
Poderia
haver contradição ao sexto Mandamento? Ou a Matança ilegítima, de acordo com a
Lei, seria não autorizada?
O
mandamento por si só não nos elucidará o assunto, para tanto, será necessário
ir além.
Teorias De Castigo
A
desobediência deve haver um certo tipo de consequência, tal como castigo para
que a autoridade funcione.
A
autoridade tem em seu bojo a punição e isto em todas as instituições ou formas
de estruturas organizacionais que exercem a disciplina com finalidade.
A
Lei bíblica tem motivos para castigo.
Motivos para castigo
Desencorajamento - Tal
como em Deuteronômio 13: 11 a medida punitiva tem objetivo o desencorajamento
bem como a imolação dos animais pelos sacerdotes, servia para o mesmo fim.
Reforma - A
excomunhão bíblica, de acordo com Paulo, serviria para a restauração, ou seja,
a disciplina leva ao arrependimento e por fim a não danação Eterna. Da mesma
forma como a vara da correção dos filhos.
Restituição - o
dever de restituir o bem adquirido ou que sofreu danos em suas proporções
também serve para disciplina.
Restrição -
Quando não há mais possibilidade de restauração na reforma, culmina-se na
restrição ou afastamento tal como acontece hoje com os que cometem crimes
sexuais X vítimas ou o fim das atividades criminosas na comunidade.
Tributação - A
bíblia não autoriza o lucro com a punição, mas é isto que tem ocorrido com a
tributação corretiva em vários países.
Retribuição - Há
uma ordem moral objetiva no Universo, acreditamos nós, logo há um merecimento
da punição como retribuição ao crime cometido.
Observações
A
teoria do castigo não pode ser reduzida por um eticista como uma fórmula. O
equilíbrio seria um regime que não apenas punisse e restringisse o mal
comportamento, mas incentivasse o bom. Há uma recompensa merecida, tal como diz
Lewis, possível de ser debatida pois uma pessoa pode ser culpada apenas por
parecer culpada para o público de acordo com a dissuasão.
A
reforma deve ser justificada bem como a restrição, restituição e a tributação.
Prisão
A
prisão como punição especifica por um tempo não está presente na Lei Mosaica,
ainda que demonstre isso nos países vizinhos a Israel e depois pelos reis
israelitas e no N.T. Bastavam-se açoites, restituição e escravidão ou pena de
morte, e esta última sendo motivo gerador para aumenta daquela e diminuição
desta, mesmo que as estatísticas comprovem que os criminosos não sejam
restaurados com a prisão.
Compreendemos
que as atuais nações não estão em Aliança com o Deus das Leis aqui estudadas
nem tampouco querem sujeitar-se a tais, porém se o roubo fosse tratado tal qual
pela Lei Mosaica, na restituição por intermédio do trabalho forçado, se
necessário, muitas questões concernentes poderiam ser diferentes. O contato com
a prisão pode criar o círculo vicioso, tanto para o caso supra bem como para a
questão do tráfico de entorpecentes.
A
culminância com a morte deve ser analisada nos casos daqueles que podem forçar
ou fomentar novos tipos de criminosos profissionais em um complexo prisional
misto, isto observado pelo prisma de Deuteronômio 17:12, no que se refere ao
“...que se houver soberbamente”.
Dentro
do propósito inicial do confinamento, a prisão deve ser utilizada pelos
cristãos no intuito da evangelização, primando por recuperação e regeneração da
mesma forma como foi eficaz na escravidão hebraica antiga, preparando os
reclusos para a liberdade após afinados aos princípios bíblicos.
Pena de Morte
Biblicamente,
no antigo testamento, encontramos inúmeras razões para a morte como sentença,
logo, a compreensão do sexto mandamento, demanda maior entendimento, pois é
preciso discernir entre as causas autorizadas pelo próprio Deus.
Dentre
elas haviam casos de Santidade Especial de Israel, assim sendo, não cabe a
outras nações bem como outros crimes que podiam ser resgatados de outra forma.
Apesar
de a Lei da preservação da vida ser anterior a Moisés, até porque o valor da
mesma antecede o referido no status pré-queda; “imagem e semelhança de Deus”,
deve-se analisar os fatores da aplicação do derramamento de sangue pela vida
tirada.
Em
ambos os testamentos encontramos a autoridade sobre a vida posta ao governo
civil e não ao crente em particular, mesmo com textos tal qual Romanos 13.
A
pena capital não é uma privação absoluta da existência, até porque, a pena
capital não tem por objetivo decisivo a restrição e sim, como já mencionado a
retribuição e também não visa apenas o desencorajamento.
O
preconceito racial já foi motivo fundante e contrário à pena capital como hoje é
o exame de DNA, ainda que este deveria ser usado para o auxílio e não ser
contrário à pena de morte (pois esta existe antes do DNA). Justiça maior sempre
deve ser objetiva, porém nunca será perfeita e a pena referida é apenas parte
do processo pelo qual Deus envia seus castigos sobre um mundo pecaminoso.
Guerra
A
bíblia não nos servirá como padrão de Ética Real de Guerra, basta vermos Tiago
4:1,2, onde o Pecado é a causa das guerras. A paz é objetivo bíblico na
consumação da história. A guerra (metáfora) cristã é vencida com as armas
espirituais; verdade, justiça, Evangelho, fé, salvação, Palavra de Deus e
oração.
Tal
como escrito em Salmos 34:14 devemos ser amantes da Paz, ainda que perseguidos
e o mal deve ser vencido com o bem até mesmo por aqueles que devem fazer a
guerra. Estes, preparados pelo próprio Deus no Salmo 144:1.
A
guerra herem – meee;]\]reeeex
“expulsão” (Dt.20) é uma guerra de destruição total e uma situação específica e
restrita, ou seja, o cumprimento da promessa feita a Abraão de lhe dar uma
terra. As terras dalém do perímetro prometido teriam abertura a acordos e, caso
desrespeitados, homens morreriam, mulheres e crianças tornar-se-iam em
escravos. Vários rituais eram observados pontuando assim a sacralidade da
Guerra, pois diferente das nações hoje, Deus era Autor da vitória de seu povo,
não fornecendo modelo ético para guerra moderna.
Pacifismo
O
Pacifismo e a teoria da guerra justa surgem na dificuldade de observar
princípios explícitos na Bíblia para a ética da guerra. Pacifismo tem por
ilegítima e injustificável e independente de circunstância por causa da lei do
amor e o apoio ao Estado, que é contrário a Deus, toda e qualquer forma de
guerra. Dispensa-se necessidade de comentário acerca do que já foi dito acerca
do Magistrado que recebe delegação divina para o cuidado de Adão.
A
falácia acerca do divórcio em detrimento às guerras também pode ser resolvida
pelo simples fato que deus não ordenou o divórcio (permissão por dureza de
coração e exceção em Esdras 10) mas ordenou que Israel fosse a guerra, ainda
mais, Ele retirou o reino a Saul por não cumprir a Herem contra Amaleque.
No
que tange a Patrística como defesa, o mesmo pode se dizer com relação aos tais,
pois estes são apenas um guia para a aplicação das Escrituras e não uma
Autoridade final sobre o assunto.
Um
cristão nas forças armadas se torna parte do governo civil, assim sendo,
incorrerá no risco de matar a um irmão de fé que se torna aliado do agressor.
Na justiça não cabe parcialidade entre o cristão e o cidadão comum.
Teoria da guerra justa
Na
teoria da guerra justa, segundo acreditam alguns pensadores, existem motivos e
princípios que fazem da guerra; justa e necessária, tanto seu início quanto sua
manutenção.
Geralmente
aqueles que travam uma guerra a justificam como sendo seus fins justos, ainda
que por fim as argumentações terminam de maneira não decisiva.
Dentre
os princípios considerados justificáveis a guerra estão:
A
causa justa; Intenção justa; Último recurso; Declaração formal; Objetivos
limitados; Meios adequados; Imunidade para os não combatentes; Justiça
comparativa; Probabilidade de sucesso; Boa-fé de tratados e acordos.
Todas
elas podendo ser arguidas nas próprias perguntas.
Algumas ideias das escrituras
Devemos
nos contentar com generalidade em vez de detalhes uma vez que a Escritura, como
já mencionado, nada tem de definitivo ao assunto abordado. Um eticista nunca
terá uma definição sobre quantas armas deverá usar, por exemplo, se consultando
o livro Sagrado.
A
preservação e a alta consideração da vida, sempre deverão ser objetivados pelo
cristão ainda que por vezes algumas dessas vidas serão sacrificadas pelo
cumprimento do objetivo, a Bíblia justifica fazer o que for necessário para
atingir um objetivo militar legítimo.
Guerra nuclear e repressão
As
armas nucleares destroem muito mais do que seres humanos indistintamente, ainda
que alguns argumentam que estes tipos de guerra nuclear só são aceitáveis se
forem herem - mrx, visando a destruição total, não somente seres humanos,
mas arrasando os recursos naturais.
Por
fim ficam as questões: Toda guerra necessariamente precisa de tais armas? Estas
podem ser armazenadas para repressão? O autor considera-se não pronto a
responder sobre a legitimidade do uso de armas nucleares em todos os casos bem
como conclui como sábio os E.U.A ao manterem um estoque de armas nucleares como
forma de repressão tal qual fizeram outros países. Em alguns casos, diz ele, é
a melhor estratégia de repressão, desconhecendo qualquer princípio bíblico que
reprima nessas situações.
Capítulo 37
O
Sexto Mandamento: Proteger a Vida
Além de questões governamentais, este mandamento também
lida com questões pessoais e individuais dos cristãos quanto à ordenança do Criador
sobre proteger a vida. Há uma sucinta discussão nas sociedades sobre a morte,
como por exemplo, os secularistas liberais que se opõe à matança das guerras,
mas apoia o aborto e a eutanásia. A ética bíblica se opõe a esse pensamento,
antes de definir qual é a situação em que devemos ou podemos decidir sobre a
vida de uma pessoa é preciso realizar uma análise cuidadosa sobre alguns
assuntos.
Aborto
Há um pensamento de que a igreja não deve se posicionar
quanto a esse assunto por não haver um texto explicito na Bíblia, essa ideia é apoiada
no princípio da “Sola Scriptura” que proíbe a igreja de comentar sobre assuntos
não tratados na Bíblia. Há na Bíblia, no entanto, uma fala implícita sobre o
valor das crianças não nascidas e não tratar o assunto é compreender mal a
suficiência das escrituras, pois a mesma tem a função de mostrar sua
importância também em assuntos que não estão explicitamente registrados, ou
seja, “não matarás” nos incita que não devamos interromper uma gravidez assim
como “não furtarás” implica em não pegar a carteira de professores de seminário
sem o consentimento deles.
Podemos consultar o texto de Êxodo 21.22-25 para refletir
sobre o tema: "Se homens brigarem e ferirem uma
mulher grávida, e ela der à luz prematuramente, não havendo, porém, nenhum dano
sério, o ofensor pagará a indenização que o marido daquela mulher exigir,
conforme a determinação dos juízes. Mas, se houver danos graves, a pena será
vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé,
queimadura por queimadura, ferida por ferida, contusão por contusão”. Podemos considerar três interpretações
considerando-as como “a favor da vida”. A primeira delas é a interpretação do
“nascimento vivo” (v22) que por uma indefinição do Hebraico original no termo
“maior dano” considera que este pode ser aplicado tanto a mãe quanto ao bebê,
ou até mesmo de ambos. É este ponto que se difere com a segunda parte da
interpretação (v23 a v25) onde o dano continua sendo indefinido mas deixa claro
que a pessoa que cometeu o dano será punida debaixo da política olho por olho,
dente por dente, logo, da mesma forma que retirar a vida da mãe é um crime tão
grave que deve ser pago com a própria vida, da mesma forma, retirar a vida da
criança não nascida também é grave e requer a mesma punição. Vale observar que a
passagem não diz que o agressor pretendia causar o dano (seria considerado
morte acidental), caso o golpe fosse intencional o crime seria ainda mais
grave. Isto caracteriza o aborto como um crime ainda pior, pois trata-se da
morte intencional de uma criança não nascida. A segunda interpretação é a do
“aborto espontâneo”, e normalmente é citada como apologia ao aborto, enxergaremos
esta interpretação de forma diferente. Desta vez, na primeira parte do
versículo o “dano” é somente para a mãe, que é considerada crime capital no
caso de morte, e poderá ser julgada pelos juízes e o marido. Agora quando há
morte da criança, há apenas o pagamento de uma multa, pois não é considerado um
crime capital, é justamente neste ponto que as pessoas que são a favor do
aborto se apoiam, mas o texto bíblico deixa claro que ainda que a punição não
seja a mesma aplicada na primeira interpretação (a morte do culpado) não
significa que não seja errado, o texto continua sendo contra essa prática, as
pessoas que defendem essa interpretação em geral dizem que ela justifica o
aborto. Racionam que a diferença no castigo implica a diferença em status. A terceira
interpretação, chamaremos de “visão posterior de Kline”, que é a visão do
aborto espontâneo defendido por Meredith Kline. Essa interpretação defende,
como a primeira, a ideia de que tanto o dano à mãe quanto ao bebê deve ter a
mesma punição, a de morte, portanto ambos têm direito à vida. Em todas as três
interpretações a passagem de Êxodo protege a criança pela força da lei, não
havendo distinção da idade do feto.
Segundo Kline, o aborto induzido é um
pensamento tão contraditório que não havia necessidade de lidar com esse
assunto na lei mosaica. As leis assírias atestam uma aversão a este crime,
condenando a mãe não somente a morte, mas também a empalação e exposição do
corpo para sua vergonha e expressão de repúdio. Concordamos em afirmar que
devemos proteger a vida não nascida a partir do ponto de sua concepção.
Em Salmos 139.13-16, Davi descreve o
tratamento de Deus com ele, no ventre de sua mãe. Nesta passagem, Davi se
refere à vida não nascida como totalmente pessoal. Davi já era uma pessoa,
antes de seu nascimento. Não usaremos essa passagem isolada apenas para provar
a pessoalidade das pessoas não nascidas, mas sim, porque ela representa um uso
bíblico geral para defender a vida, assim como diversas outras passagens. Há
também o uso de pronomes pessoais em Salmos 51.5 mostrando a pessoalidade de
Davi ainda como feto, explicando explicitamente que o pecado de Davi remonta à
sua própria concepção. Vemos então, nesta passagem Davi referindo-se a si mesmo
como pessoa antes de nascer (usando pronomes pessoais), como um pecador e ainda
remonta esse pecado à sua própria concepção. Em Lucas 1.35 e Juízes 13.3-5 defendemos
a ideia de que a bíblia presa pela proteção à vida mesmo antes do nascimento.
A partir da
legislação contra homicídios na lei mosaica, defendemos o princípio de que não
devemos apenas evitar o assassinato, mas também ser muito cuidadosos para nos
prevenirmos contra a possível destruição da vida humana. Ainda que não seja uma
questão em que podemos responder com totalidade à luz da Bíblia, diante de uma
dúvida de matar ou não, sempre devemos optar pela vida.
Há também uma evidência científica
confirmado o argumento bíblico que diz que a criança não nascida é uma pessoa e
têm direito à vida. A partir do momento que o feto possui metade dos
cromossomos do pai e metade da mãe, conclui-se que as crianças têm uma
constituição diferente do da mãe, não fazendo parte de seu corpo. Há uma
dependência do corpo da mãe (oxigênio, nutrição e imunidade) mas que não
implica a sua existência em si. A teologia, para nós, deve vir antes da
ciência. A questão principal aqui é a pessoalidade do não nascido, pois é isso
que lhe dá direito à vida. A pessoalidade é uma categoria metafísica,
religiosa, teológica e ética, não uma categoria científica.
Pode-se justificar o aborto em
alguma circunstância? Apesar de ter situações como estupro ou incesto ou em
outra situação em que se preze pela saúde da mãe, ele não se retira de uma
posição bíblica para responder a esses casos. Com certeza, como cristãos,
devemos ajudar pessoas que passam por esse tipo de dificuldade. Mas a Bíblia
parte do princípio em que as crianças não nascidas devem ser tratadas como as
outras pessoas, isso igualiza o direito de vida tanto da mãe quanto da criança.
Não podemos ceder quanto ao princípio bíblico de que as crianças não nascidas
devem ser tratadas da mesma maneira que as já nascidas. Seria certamente errado
matar um bebê ou uma criança porque ela é deformada, ou como meio de controle
do crescimento da população. Portanto, matar uma criança não nascida por essas
razões também é errado. O se vale quanto às questões mais sérias do estupro e
do incesto. No entanto, podemos destacar há uma exceção:
Faremos uma exceção posição geral até
aqui apresentada em favor da vida: no caso de que a continuação da existência
da criança ameace a vida física da mãe. Essa situação é rara, mas ocorre. Numa
gravidez ectópica, por exemplo, o ovo fertilizado se implanta nas trompas de falópio
em vez de se implantar no útero, e a criança não sobreviverá desse modo. O
médico precisa retirar a criança (destruindo-a) para preservar a vida da mãe.
Alguns defensores "a favor da vida" não gostam de descrever esse
procedimento como um aborto, mas é a morte de uma criança não nascida, o que se
encaixa na descrição do termo. Devemos ser honestos em denominar o procedimento
pelo nome correto.
Consideramos esse procedimento como
eticamente correto, pois, nesse momento, a criança é apenas um agressor
injusto, ameaçando a vida da sua mãe. Assim, o procedimento é a defesa pessoal
da mãe.
Há muitas passagens bíblicas que
citam que nosso Deus se importa com os pobres e necessitados. E é nossa
obrigação cuidá-los (como em Salmos 72.12-14), isso nos dá pauta para cuidar
daqueles que são fracos demais para se cuidar sozinho, no caso, o feto. É
preciso entender pelo que estamos lutando, a sociedade hoje entende o aborto
como uma questão de escolha da mulher, protegendo sua autonomia. Mas é
justamente a autonomia que se contradiz com a mensagem cristã, essa liberdade
destrói a natureza humana. Devemos pregar o evangelho que protege às crianças
não nascidas e também às mulheres com gravidez problemáticas. Mas ainda, mais
importante é ser fiel. Em Cristo, Deus nos mostrou misericórdia inestimável, não
podemos medir a profundidade, a largura, a amplitude ou a altura do seu amor.
Certamente um amor tão maravilhoso e divino exige nossa alma, nossa vida, nosso
tudo. Portanto, vamos adiante agressivamente, amando os outros como Cristo nos
amou.
Morte
Para tratar da morte física humana
de forma geral, começamos em Gêneses 2.7, onde começa a vida. Nesta passagem o
texto no original, expressa o “cessar da respiração”, e aí começa uma discussão
de quando podemos afirmar que esse cessar é irreversível, pelo fato de pessoas
voltarem à vida depois de supostamente terem morrido. Por isso a medicina
conclui como “morta a pessoa que tiver sofrido: (1) cessação irreversível das
funções circulatória e respiratória; (2) cessação irreversível de todas as
funções do cérebro por inteiro, incluindo o tronco cerebral.
Esta discussão abre portas para
traçar um pensamento ético bíblico entre manter a vida por fontes naturais e
artificiais. Também é importante reconhecer que o termo irreversibilidade” é
dependente da tecnologia e que é subjetivo, já que os médicos nem sempre têm
certeza se podem reverter uma perda das funções naturais.
Precisamos discutir biblicamente a
diferença entre matar e deixar morrer, pois nem sempre isto pode estar correto.
Em certo ponto é compreensível que deixamos as pessoas morrer, pois há algumas
morrendo neste exato momento, e não estamos fazendo nada para impedir isto. E
não é correto dizer que somos responsáveis por essas mortes, neste caso,
deixá-las morrer não significa que de fato as matamos, essa é a diferença entre
matar e deixar morrer que devemos considerar. Os fatos em que deixar a pessoa
morrer é considerado o mesmo que matá-la, em geral, é errado deixar alguém
morrer quando temos o poder de mantê-lo vivo.
Neste ponto, a medicina nos
complicou consideravelmente dando a opção de prolongar a morte, e mesmo que
tenha a intenção de salvar a pessoa, não devemos fazer isso, lembramo-nos de
que a morte é uma parte inevitável da maldição, mas para nós, cristãos, é
lucro, é a entrada para a glória. Este assunto é delicado, pois podemos definir
morte facilmente, mas é muito mais difícil definir o “estar morrendo”. Como
princípio geral, devemos cuidar dessas pessoas com que nomeamos de cuidado
ordinário (nutrição, água, proteção contra infecções, etc.) mas há algumas
circunstâncias em que o cuidado pode ser contrário a ética bíblica, como por
exemplo, quando o alongamento da vida tem o objetivo de diminuir o sofrimento,
enquanto a morte aliviaria toda a dor desta pessoa. Também quando é pelo fator
financeiro quanto ao preço do tratamento, a vida física não é prioridade final.
Ou até mesmo em alguns tratamentos onde faz-se o uso do transplante para
alongar a vida do moribundo. Nestes casos devemos negar cuidados.
Eutanásia
Neste caso o “não matarás” se
aplica diretamente ao assunto, ainda que tem liberdade de quanto ao tipo de
cuidado médico devemos ter com os pacientes, não se deve usar desta liberdade para
matar. Devemos nos lembrar de não negar cuidados ordinários à pacientes
simplesmente por serem deficientes. Nós não somos o padrão para decidir pela
vida de alguém ou pela própria vida, Deus o é. Ainda que a bíblia não cite um
padrão de qualidade de vida, é possível, e temos vários exemplos, de pessoas
deficientes que encontram maravilhosas maneiras de se viver.
Suicídio
Apesar de não explicito nas
escrituras, suicídio é um pecado e há um contexto de derrota e vergonha por
traz disto, na bíblia há cinco exemplos de suicídio e todos eles resultaram da
desobediência a Deus. Devemos lidar com o suicídio com amor, e tratá-lo como um
outro pecado que também há perdão.
As pessoas com indícios suicidas
precisam ser perdoadas, de compaixão do corpo de Cristo e da graça da cruz. Diferenciar
suicídio de “entregar a vida a favor de outro”, ou a de um cristão recusar um
tratamento por ser um estorvo para a família.
Saúde e Segurança
Há preocupações quanto a nossa
saúde e segurança que podem ser certas ou erradas:
Álcool - O abuso do álcool é citado na
bíblia, apesar de haver uma fala positivamente sobre beber o vinho, e não
somente de sua qualidade nutricional, mas também porque “alegra o coração do
homem” sendo capaz de alterar seu humor. O abuso, ou vício, torna-se então um
pecado. Devemos então considerar o uso do álcool quando ele está sob domínio do
ser humano e não ao contrário.
Tabaco - Até o século XX não foram reconhecidos os riscos do tabaco e na
época bíblica ainda não se conhecia esta prática. O fumo, como o álcool, causa
prazer, porém, devido a série de problemas que isto pode causar a saúde, consideramos
insensato algum cristão começar a fumar. O autor da obra aqui exposta, cita a
importância de não abusar no incentivo para que o fumante pare de fumar, pois
isso pode trazer sérias complicações. É errado começar a fumar, mas se alguém
já é um fumante, pode ser uma boa escolha não tentar parar.
Drogas - O abuso de drogas não somente faz
mal à saúde como a sociedade em geral. Os princípios não são diferentes da
questão do álcool, mas de fato, há um alto risco de vício. Neste caso, o
silêncio relativo da Escritura nos incentiva a pensarmos criativamente.
Comida, bebida e exercícios – Consideramos os
esforços para uma vida saudável bons até certo ponto e cita Paulo como alguém
que colocou a própria saúde de lado para pregar o evangelho e também de Jesus
que deixou os seus para passar fome e sede aqui na Terra. A bíblia nos deixa
claro que nossa vida na terra será de sofrimento, enquanto aguardamos a glória
que virá.
O meio Ambiente
Apesar do termo em hebraico no
mandamento se aplicar apenas à matança dos seres humanos, vimos que Deus se
importa com os animais também, afinal, eles têm fôlego de vida. O homem não
deve governar a terra no sentido de destruí-la, mas usar de seus recursos
naturais para desenvolver e aumentar os recursos da terra, logo, cuidar do meio
ambiente. De fato, o ambientalísmo bíblico rejeita qualquer religião panteísta,
a terra não é Deus, os animais não têm os mesmos direitos a vida que os homens,
mas isso não significa que devemos dar prioridade a atividade humana e não à
preservação da natureza. Apenas uma sociedade regenerada alcançará concordância
suficiente quanto às questões mundiais para salvar a terra. Portanto, a
necessidade principal do meio ambiente é o evangelismo.
Resumido por: Deivid Liberto, Silvio Silva e Marcos Vinicius Silva - Alunos do curso de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie - São Paulo/SP. - Campus Higienópolis.
Resumido por: Deivid Liberto, Silvio Silva e Marcos Vinicius Silva - Alunos do curso de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie - São Paulo/SP. - Campus Higienópolis.
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